Classe de Black: entenda o que é e quais são os tipos
Dentro da odontologia existem inúmeros sistemas de classificação que são utilizados pelos profissionais a fim de padronizar a categorização de problemas bucais e dentários, facilitar o diagnóstico, o plano de tratamento e até mesmo o prognóstico.
Além disso, pode-se criar uma linguagem comum entre os dentistas e facilitar a comunicação entre profissionais que atuam na área da saúde bucal.
Dentre as classificações mais utilizadas no dia a dia do cirurgião-dentista está a Classificação de Black. Ela se relaciona com as características das diferentes cavidades que podem estar presentes nos dentes, de acordo com sua localização e extensão.
No conteúdo de hoje, vamos abordar a Classificação de Black de forma completa. Continue a leitura para ficar expert no assunto!
O que é Classe de Black?
A classificação de Black foi proposta pelo dentista norte-americano Greene Vardiman Black, popularmente conhecido como GV Black, o qual é considerado um dos fundadores da odontologia moderna nos Estados Unidos.
Ela é utilizada na odontologia como um sistema de classificação que tem o objetivo de caracterizar os diferentes tipos de cavidades dentárias categorizando-as em classes de I a V.
Sua relevância clínica está no fato de tornar mais didático o entendimento da extensão e tipo de cavidade dentária apresentada pelo paciente, permitindo uma comunicação padronizada entre os profissionais, bem como um diagnóstico mais preciso e eficiente.
Isso se dá porque a classificação envolve uma codificação numérica que permite representar as faces acometidas pela cavidade presente no dente, o que, consequentemente, contribui para a determinação do plano de tratamento a ser realizado.
Tipos de cavidades
Antes de falarmos sobre a classificação das cavidades dentárias segundo Black, é preciso compreender que as causas da perda de estrutura dentária podem ser diversas, o que também confere diferentes características às cavidades.
Confira abaixo as principais causas relacionadas à perda de estrutura dentária:
Cárie
A cárie é uma doença multifatorial que precisa de três componentes fundamentais para se estabelecer: superfície (dente), biofilme e dieta rica em açúcares fermentáveis, especialmente a sacarose.
Os sinais da doença podem variar de acordo com o tempo em que ela se estabeleceu e a falta de controle dos fatores etiológicos, principalmente a manutenção de uma dieta desequilibrada e higienização inadequada.
Desse modo, o final inicial da doença é a mancha branca, a qual pode progredir para lesões cavitadas nas diferentes superfícies dos dentes. As lesões cavitadas decorrentes da doença cárie podem ser ativas ou inativas, a depender das mudanças de hábitos que favoreçam a recuperação da saúde bucal.
Cavidades com lesão ativa são aquelas que apresentam aspecto amolecido, amarelado e com grande potencial para progredir sua extensão. Já as cavidades inativas apresentam aspecto enegrecido, com tecido dentário remineralizado e, por isso, duro.
As superfícies mais susceptíveis às cavidades ocasionadas por lesão de cárie são as oclusais (devido às sulcos e fissuras), proximais (devido à falta do uso de fio dental) e vestibulares (especialmente em crianças, na região cervical).
Fratura
Outro tipo de perda de estrutura são as fraturas dentárias. Elas podem ocorrer em dentes anteriores após traumatismos bucais, ou em dentes posteriores, geralmente associadas a defeitos de esmalte, mastigação ou bruxismo (apertamento e/ou rangimento dentário).
Abfração
Abfração é uma outra forma pela qual a estrutura dentária pode ser perdida. Nesse caso, a perda de estrutura ocorre gradualmente e não há relação com lesões cariosas, sendo também conhecida como lesões cervicais não cariosas.
Cavidades geradas por abfrações têm formato de cunha e ocorrem na junção amelocementária, tendo como principal fator etiológico a tensão mecânica gerada pela mastigação, contato prematuro ou bruxismo. Sua prevenção pode se dar pelo controle dos fatores etiológicos e placa oclusal, em casos de pacientes bruxistas.
Abrasão
A abrasão é um tipo de perda de estrutura dentária ocasionada pela escovação dentária inadequada, seja pelo uso de escova com cerdas duras ou pastas muito abrasivas e força excessiva durante a escovação.
Esse tipo de desgaste tende a ocorrer principalmente nas faces vestibulares dos dentes e pode, inclusive, vir acompanhado de recessão gengival.
Erosão
A erosão pode gerar desgastes dentários generalizados e em todas as fases dos dentes, especialmente as linguais e palatinas. Ela ocorre pela exposição a ácidos, como aqueles provenientes do refluxo gastroesofágico ou de alimentos e bebidas. Em casos raros, a exposição a ácidos no local de trabalho pode ser uma causa da erosão dentária.
Gestantes tendem a apresentar maior risco à erosão dentária devido a maior frequência de vômito durante a gestação. Além disso, a erosão também pode ser um sinal de alerta quando diagnosticada em adolescentes, pois pode estar associada à bulimia.
Desse modo, é importante identificar os fatores etiológicos quando se diagnostica desgaste dentário decorrente da erosão.
Tipos de classe de Black
Agora que você já conhece as principais causas dos desgastes dentários e perda de estrutura, vamos conversar especificamente sobre a forma de classificar as cavidades dentárias. Lembrando que as codificações abaixo servem para classificar as cavidades e os tipos de restaurações que serão realizadas.
Classe I
A classe I de Black corresponde a lesões ou cavidades localizadas nas regiões de sulcos, cicatrículas e fissuras, ou seja, faces oclusais de pré-molares e molares, e faces vestibular e lingual/palatal de molares para as quais os sulcos podem se estender. Não podemos esquecer que também há cicatrículas presentes nas faces palatal e lingual de dentes anteriores, principalmente próximas ao cíngulo.
Classe II
A classe II de Black é aquela na qual as faces proximais de pré-molares e molares estão envolvidas, podendo haver perda de estrutura em outras faces do dente, simultaneamente.
Classe III
Na classe III de Black, estão envolvidas uma ou ambas as faces proximais dos incisivos e caninos, sem comprometer o ângulo incisal. As cavidades, nesses casos, podem ser restritas às faces proximais ou estender-se em direção às superfícies vestibular e/ou lingual/palatal.
Classe IV
A diferença entre a classe III e a classe IV de Black é que na classe IV há o envolvimento do ângulo incisal.
Classe V
Na classe V de Black, o terço gengival das faces vestibular ou lingual/palatal do dente está envolvida, podendo ocorrer em qualquer dente da arcada.
Como a classe de Black é utilizada?
Como já conversado, a classificação de Black facilita o dia a dia dos profissionais que atuam na área de saúde bucal, sendo a mais bem-sucedida e aceita, pois apresenta uma ótima combinação de simplicidade e abrangência em sua codificação das cavidades dentárias.
Ela contribui inclusive para a dinâmica da clínica, visto que, com o adequado preenchimento do prontuário com a classificação da cavidade e tipo de restauração a ser realizada, a auxiliar ou técnica de saúde bucal pode preparar a mesa clínica adequadamente com os materiais que serão utilizados de acordo com o tipo de restauração prevista para o atendimento.
Mais do que isso, a informação do plano de tratamento com uso da classificação de Black auxilia na precificação do procedimento e na comunicação durante o detalhamento do orçamento para o paciente, o que pode ser realizado pelo próprio profissional ou pela secretária da clínica.
E, em caso de necessidade de que outro profissional realize o procedimento planejado, a classificação de Black contribui para que se tenha previsibilidade de qual tipo de restauração será realizada.
Conclusão
Black, portanto, deixou grandes contribuições para a odontologia por meio de sua classificação, impactando a prática clínica de cirurgiões-dentistas de todo o mundo.
Incorpore a anotação da classificação de Black nos prontuários de seus pacientes e observe o quão mais eficientes e organizados serão seus planos de tratamento!
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Referências:
BARATIERI, L. N.; MONTEIRO JR. Odontologia restauradora, fundamentos e técnicas. v. 2. Santos: 2013.
MONDELLI J. Fundamentos de Dentística Operatória, 2ª edição.: Grupo GEN; 2017.
NANCI, A; TEN CATE, A. R. Histologia oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Mosby Elsevier, 2013.