É o fim dos bráquetes?
É o fim dos bráquetes?
Nos últimos congressos que participei, vi o aumento do tema Alinhadores Ortodônticos tanto nas grades de palestras, quanto, principalmente nas feiras comerciais.
Também, pudemos observar o aparecimento de varias empresas que fabricam alinhadores além de outras, que vendem soluções para a fabricação in office de alinhadores ortodônticos.
Como muitos colegas sabem, sou um admirador de novas tecnologias, não apenas aquelas direcionadas a rotina das pessoas mas principalmente daquelas que uso na rotina do meu consultório de ortodontia.
Em 2008 tive o privilégio de concluir meu Doutorado em Ciências Odontológicas com ênfase na área de Ortodontia, na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, e utilizei modelos ortodônticos de 30 indivíduos com oclusão normal, digitalizados num escaneador 3Shape (3Shape A/S, Copenhagem, Dinamarca) e avaliados no software de engenharia reversa Rapidform 2006 (3D System Inc, Carolina do Sul, EUA).
Nessa época, já vislumbrava os caminhos que a ortodontia digital tomaria e tinha certeza que o ambiente virtual mudaria totalmente a forma com a qual o ortodontista planejava e conduzia seus tratamentos. Isso se confirmou, de forma muito mais rápida que pensei.
Contudo, sinto um certo viés, uma tendência de dicotomia nas abordagens terapêuticas apresentadas pelas empresas de tecnologia, dando a entender que uma coisa substituirá outra, eliminado assim tudo o que aprendemos nos últimos tempos.
Particularmente não penso assim, acredito que temos muito potencial quando unimos o que cada recurso tem de melhor.
Contudo, essa é apenas minha opinião e, para sustentarmos uma opinião, precisamos de fatos, teses e estudos.
Também, nós ortodontistas, pensamos muito na terapia, no dia a dia clínico e quero fazer uma sustentação muito além apenas da indicação do tratamentos com braquetes.
Vamos abordar o mercado.
Mercado
Buscando informações sobre a participação do mercado de braquetes e produtos associados ao uso de braquetes pude obter a informação que em 2017 o mercado global de ortodontia foi avaliado em US$ 1.493 milhões e estima-se que em 2023 atinja a casa de US$ 2.597 milhões.
Isso mostra a tendência de uma taxa de crescimento anual composta de 8,2% nesse período.
Algumas análises mostram que o aumento da população idosa e a prevalência de problemas odontológicos relacionados as maloclusões impulsionam o mercado global de ortodontia.
Também, vivemos numa época de aumento da conscientização da saúde e estética bucal.
No primeiro mundo, as políticas de reembolso e os riscos associados aos procedimentos ortodônticos, impedem o crescimentos de acordo com estudos de mercado.
Contudo, esses estudos reforçam que existe um potencial inexplorado em mercados emergentes e isso pode oferecer oportunidades lucrativas aos participantes do setor, fazendo com que o mercado preveja um crescimento significativo na comercialização de braquetes em países como o Brasil.
O mesmo estudo de mercado fez uma projeção segmentando a amostra em dois grupos, crianças e adultos.
Em 2016 o grupo crianças, dominava o mercado e continuará da mesma forma em 2023, com crescimento por volta de 75%.
O grupo adulto mostra um crescimento menor mas ao meu ver, muito significativo, por volta de 35%.
Outra questão muito importante a ser discutida é a relação entre o poder aquisitivo da população e a região de atuação do ortodontista.
Será que em todas as regiões nossos potenciais clientes tem acesso a tratamentos com valores mais altos?
Fazendo uma análise sobre a variabilidade regional do Brasil, verificamos que temos um poder de compra razoável na média nacional mas quando utilizamos o PCI – programa de comparação internacional, ficamos muito aquém nesse quesito.
Ackerman e Burris refletiram em 2018 sobre a visão do cliente em relação a nossa atuação.
Mesmo eu não concordando plenamente, devemos ficar sensíveis ao editorial e realmente pensarmos no nosso papel em relação ao cliente.
Em dado estatístico, citaram que em 2015, 43% das compras de passagens aéreas forma baseadas no preços, seguidas por 21% pela conveniência do vôo.
Isso me fez pensar se esse mesmo passageiro não é o meu paciente ( cliente ) e se não devemos ter em nosso portfólio de serviços alternativas de equipamentos de preços variados.
Notem que em momento algum, devemos nos esquecer da segurança e efetividade da proposta em detrimento do preço mas, mesmo assim, considero o tratamento com braquetes seguros e eficientes.
Minha conclusão é que nós, ortodontistas, não devemos simplesmente abandonar um equipamento consagrado, versátil, seguro e com potencial enorme de mercado.
Acredito sim na possibilidade de utilizarmos todo potencial que os sistemas atuais nos oferecem, como os tratamentos híbridos, parte com braquetes, parte com alinhadores, mas essa discussão ficará para as próximas publicações.
Referências:
Ackerman, M. and Burris, B. (2018). The way it was, the way it ought to be, the way it is, and the way it will be. American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics, 153(2), pp.165-166.
Allied Market Research. (2019). Orthodontics Market by Type (Brackets [Fixed and Removable], Anchorage Appliances [Bands & Buccal Tubes and Miniscrews], Ligatures [Elastomeric Ligatures and Wire Ligatures], and Archwires) and Age Group (Adults and Children) – Global Opportunity Analysis and Industry Forecast, 2017-2023. [online] Available at: https://www.alliedmarketresearch.com/orthodontics-market [Accessed 2 Apr. 2019].
Stoeterau, R. (2019). Programa de Comparação Internacional | Estatísticas | IBGE. [online] Ibge.gov.br. Available at: https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/economicas/precos-e-custos/9286-programa-de-comparacao-internacional.html?=&t=o-que-e [Accessed 4 Apr. 2019].