Carvão ativado para os dentes: é realmente seguro? Saiba mais sobre!
Cada vez mais tem sido maior a busca por procedimentos estéticos e com isso, maior também é a gama de produtos oferecidos pela indústria com a promessa de resultados rápidos.
No consultório odontológico, a busca por procedimentos estéticos também tem se elevado, sendo o clareamento dental uma das maiores demandas estéticas atuais.
Isso pode estar relacionado com o fato de que o sorriso com dentes brancos tem sido superestimado e julgado pela sociedade como o mais bonito, bem como dentes alinhados, com proporções corretas e em conformidade com o resto da face.
Nos últimos anos, as vendas de clareadores a base de carvão ativado têm ganhado destaque nas mídias sociais e no mercado, com a promessa de um clareamento eficaz e barato, quando comparados aos clareadores prescritos ou utilizados por cirurgiões-dentistas.
Mais do que isso, o “faça você mesmo” tem incentivado as pessoas a adquirem produtos que ainda não têm evidência científica de efetividade e segurança, além do risco de se realizar procedimentos sem o acompanhamento de um profissional qualificado.
Desse modo, preparamos um conteúdo para discutirmos sobre a importância de se refletir que a estética nem sempre é sinônimo de saúde e quais os riscos que a utilização do carvão ativado pode trazer aos dentes.
O que é o carvão ativado?
O carvão ativado (ou ativo) e o carvão da churrasqueira têm como característica comum o fato de serem do tipo vegetal. No entanto, eles se diferem em relação a matéria-prima e tamanho da partícula.
O carvão ativado é apresentado em forma de pó e é formado a partir da queima da cortiça, de lascas de madeira. Devido a queima a uma temperatura de 800° C a 1000° C, em um ambiente de oxidação controlado, ele possui elevada porosidade, com uma área de superfície que pode variar de 500 m2/g a 3000 m2/g.
Já o carvão de churrasqueira tem como origem uma madeira mais dura e outros padrões de temperatura durante a queima, e por isso é fornecido em pedaços maiores.
Utilização do Carvão Ativado
Por ser poroso, o carvão ativado é comparado a uma esponja e apresenta grande capacidade de absorção. Desse modo, ele passou a ser utilizado na medicina para tratamento de intoxicação ou envenenamento, visto que o procedimento de aplicação do carvão ativado em doses concentradas diretamente no estômago pode ser realizado por médicos por meio de uma sonda.
Após alguns minutos para que o carvão absorva o conteúdo tóxico, é realizada a aspiração de todo o conteúdo introduzido.
Outra área na qual ele tem sido utilizado com segurança é em filtros de água, para absorver impurezas que possam estar presentes na água, pois sua composição faz com que ele tenha mais afinidade por componentes oleosos e não absorva água.
Na Odontologia, o carvão ativado pode estar presente em alguns dentifrícios (pasta de dente) e atua como um componente abrasivo, pois apresenta boa capacidade de adsorver pigmentos e manchas extrínsecas por meio de abrasão dentária.
De acordo com alguns estudos, alguns dentifrícios contêm em sua composição o carvão ativado e também um elemento denominado covarina azul, que é um ingrediente adicionado com o objetivo de gerar um efeito ótico, por meio da deposição de uma fina película desse corante azulado em toda extensão do dente.
Desse modo, quando a luz incide no dente, provoca a ilusão de que os dentes estão mais brancos.
O que o carvão ativado pode fazer nos dentes?
As pastas de dente que contém carvão ou carbono ativado combinados juntamente com abrasivos, detergentes e outros agentes terapêuticos apresentam como objetivo a absorção de sujidades e promoção de saúde oral.
No entanto, o tamanho das micropartículas inseridas na fórmula da pasta e a composição dessas micropartículas podem transformar o produto em uma pasta extremamente abrasiva, que ao longo prazo de utilização, tem potencial de promover desgastes à estrutura dentária, atingir camadas mais profundas, como a dentina, e gerar hipersensibilidade dentinária.
Além disso, pesquisadores descobriram que as micropartículas de carvão ativado podem gerar impactos negativos na gengiva do indivíduo que já possui doença periodontal, pois essas micropartículas podem se acumular dentro de bolsas periodontais e, com isso, dar aos tecidos um aspecto acinzentado, afetando diretamente a saúde periodontal e a estética.
O uso indiscriminado do carvão ativado na escovação dentária, também pode gerar danos à restaurações de resina composta e também, aumentar o risco de desenvolvimento de lesões de cárie cavitadas, pois a alta abrasividade pode cavitar lesões de mancha branca ativa antes que elas se remineralizem.
É seguro clarear os dentes com carvão ativado?
A maioria desses aspectos negativos relatados acima não é informada em rótulos pelos fabricantes de produtos com carvão ativado, o que dificulta a escolha consciente pelo consumidor.
Mais do que isso, para o uso de determinado produto de saúde ser considerado seguro, é necessária uma série de estudos e até o momento não existem evidências que sustentem a indicação segura do carvão ativado como clareador dental.
Como clarear os dentes com segurança?
Atualmente, dois agentes clareadores são considerados seguros para serem indicados e utilizados por cirurgiões-dentistas: peróxido de carbamida e peróxido de hidrogênio.
Eles podem ser usados por meio da técnica caseira, na qual o paciente faz a aplicação, ou por meio da técnica de clareamento de consultório, na qual o cirurgião-dentista faz o procedimento de acordo com as recomendações do fabricante. As duas técnicas podem ser associadas e o que elas têm em comum é que ambas requerem o acompanhamento profissional.
O procedimento de clareamento se baseia na aplicação de um gel clareador a base de peróxido de hidrogênio ou peróxido de carbamida sobre a estrutura dental que será clareada e de acordo com a técnica escolhida.
A técnica caseira não exclui o profissional, ao contrário, ele é fundamental em diversas etapas como no diagnóstico, planejamento, moldagem, registro da cor, supervisão da moldeira confeccionada, orientações aos pacientes, acompanhamento semanal do clareamento e aplicação de fluorterapia em casos de relato de hipersensibilidade.
Quando o clareamento ocorre no consultório, alguns passos clínicos não são necessários e resultados podem ser mais rápidos, visto que se trabalha também com concentrações maiores dos agentes clareadores.
O peróxido de carbamida é o mais indicado para o clareamento caseiro e é utilizado nas concentrações de 10 a 22%, enquanto o peróxido de hidrogênio é o mais indicado para o clareamento de consultório e é utilizado na concentração de 35%, com proteção dos tecidos moles para evitar lesões, em função de se tratar de um produto corrosivo.
Conclusão
Por fim, um olhar crítico para os produtos que surgem no mercado é importante para indicar sempre o melhor ao seu paciente. Mais do que isso, entender os benefícios e malefícios desses produtos é fundamental para que se possa ter bons argumentos durante a orientação de saúde bucal e esclarecimentos ao seu público.
Sabemos que a estrutura do esmalte dental não é capaz de se regenerar e por isso estar atento a produtos que podem promover desgastes dentários é importantíssimo para a promoção de saúde bucal.
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